16 de ago. de 2009

A História do Santo Cálice, o verdadeiro Santo Graal




Tanto pelos dados arqueológicos como pelo testemunho da Tradição e os documentos que se possuem, é perfeitamente plausível que esta bela taça estava nas mãos do Senhor, quando na véspera de sua paixão, tomou o pão em suas santas e veneráveis mãos, e levantando os olhos para o céu, para Ti, Deus, seu Pai Onipotente, dando-lhe graças o abençoou, partiu-o e deu-o aos seus discípulos dizendo:


“Tomai, todos, e comei: Isto é o meu Corpo, que será entregue por vós”. Do mesmo modo, ao fim da ceia, Ele tomou o cálice em suas mãos, deu graças novamente e o deu a seus discípulos, dizendo: “Tomai, todos, e bebei: Este é o cálice do meu Sangue, o Sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por todos, para remissão dos pecados. Fazei isto em memória de mim.” (Oração Eucarística I, Canon Romano. Cf. Matheus 26, 26-29; Marcos 14, 22-25; Lucas 22, 15-20 e I Coríntios 11, 23-25)


A primeira impressão


O Santo Cálice de Valência, ao mesmo tempo, desperta sentimentos de admiração e ceticismo. O visitante se sente primeiramente cativado pela beleza do Graal, a sua perfeita forma e estranha os detalhes de ouro, pérolas e pedras preciosas; também o observador tem a mente cheia de lendas, filmes e até mesmo está prevenido pelos romances e literatura pseudo-científicas de temas "graálicos”.


Mas também com ceticismo:


Como pode este cálice de aparência medieval ser a taça da Última Ceia? Por que em Valência? Não será um dos muitos alegados Graais? Porque não é tão famoso como o santo Sudário de Turim ou a túnica de Tréveris? E assim como muitas outras perguntas que nós ouvimos todos os dias na Catedral.



A aparência não nos deve enganar


Na realidade, a relíquia é a parte superior, que é uma taça de ágata finamente polida, mostrando estrias de cores quentes, quando a refrata a luz, é uma preciosa "taça Alexandrina" que os arqueólogos consideram de origem oriental, datada entre os anos 100 e 50 antes de Cristo. Esta é a conclusão do estudo realizado pelo Professor D. Antonio Beltran, publicado em 1960 ("O Santo Cálice da Catedral de Valência"), nunca refutado, e que constitui a base do crescente respeito e conhecimento do Santo Cálice.


Muito mais posteriores são as alças e os pés de ouro, finamente gravado, que fecha a taça ou “naveta" de alabastro, de arte islâmica, diferente da taça; todas, assim como as jóias que adornam a base são medievais. As dimensões são modestas: 17 cm de altura, 9 cm de largura da taça e 14,5 x 9,7 cm da base elíptica.


Veneza e outros lugares conservam cálices de pedras semipreciosas de origem bizantina e na Espanha há exemplares semelhantes dos séculos XI e XII, mas se tratam de alfaias litúrgicas, engastadas em ouro e prata e tendo o interior revestido com metal. Contudo, ao compor o cálice de Valência, os ourives destacaram a taça, sem ornamentos, com grandes asas para transportá-la sem tocar o precioso e delicado vaso de pedra translúcida.




A Tradição dos primeiros séculos


A Tradição nos diz que é a mesma taça usada pelo Senhor na Última Ceia para a instituição da Eucaristia, que logo foi levada à Roma por São Pedro e os Papas a conservaram, até São Sisto II, onde, através do diácono São Lourenço, oriundo da Espanha, foi enviada a sua terra natal de Huesca, no século III, para livrá-la da perseguição do Imperador Valeriano. Recomenda esta permanência do Santo Cálice em Roma, a frase do Cânon Romano mencionada anteriormente: "Tomo este cálice glorioso”, praeclarum hoc calicem; admirável expressão que não encontramos em outras anáforas antigas, e não podemos esquecer que a oração eucarística romana é a versão latina de outra oração em língua grega, pois esta foi a oração própria da Igreja de Roma até o Papa São Damaso, no século V.



A história do Santo Cálice na Espanha


Durante a invasão muçulmana, a partir do ano 713, foi ocultado na região dos Pirineus, passando por Yebra, Siresa, Santa Maria de Sasabe (hoje, San Adrián) Bailio e, finalmente, no mosteiro de San Juan de la Peña ( Huesca), aonde refere-se a ele, um documento do ano 1071 que menciona um precioso cálice de pedra.


A relíquia foi entregue em 1399 ao Rei de Aragão, Martín, o Humano, que o manteve no palácio real da Alfajería de Zaragoza e, em seguida, até a sua morte, no Real de Barcelona, em 1410, mencionando o Santo Cálice no inventário de seus bens (Manuscrito 136, de Martín, o Humano. Arquivos da Coroa de Aragão. Barcelona, que descreve a história do cálice sagrado) Em 1424, o segundo sucessor de Don Martín, o rei Alfonso V, o Magnânimo, levou o relicário real ao Palácio de Valência, e durante a estada do Rei, em Nápoles, foi entregue com as demais relíquias régias para a Catedral de Valência, no ano 1437 (Volume 3532, fol.36 v. Do Arquivo da Catedral).


Inscrição árabe em caracteres cúficos.

Transcreve-se: li-izahirati ou lilzáhira: "para o que reluz"


O Santo Cálice em Valência


Foi conservado e venerado por séculos entre as relíquias da Catedral e até o século XVIII foi utilizado para conter a matéria consagrada no "monumento" da Quinta-feira Santa. Durante a Guerra da Independência entre 1809 e 1813, foi levado por Alicante e Ibiza para Palma de Maiorca, escapando da rapacidade dos invasores napoleônicos. Em 1916, foi finalmente instalado na antiga Sala Capitular, habilitada como Capela do Santo Cálice. Precisamente esta exposição pública permanente da relíquia sagrada que tornou possível a divulgação de seu conhecimento, que foi muito reduzido enquanto permaneceu reservado no relicário da Catedral.


Durante a Guerra Civil (1936-1939) permaneceu oculto no povoado de Carlet. O beato João XXIII concedeu indulgência plenária no dia de sua festa anual, o Papa João Paulo II celebrou a Eucaristia com o Santo Cálice durante sua visita à Valência em 8 de novembro de 1982 e o mesmo aconteceu com Sua Santidade Bento XVI que celebrou a Eucaristia durante o V Encontro Mundial das Famílias, em 8 de julho de 2006.


É autêntico?


Já dissemos que a crítica negativa afirma que desde os tempos de Jesus era uma antiguidade valiosa e há um costume judaico que nos dá um dado positivo importante; Com efeito, cada família judia conserva com carinho a “taça de benção” para as ceias pascal e sabáticas. Os Evangelhos nos dizem que Jesus celebrou o rito pascal numa sala decorada, mobiliada com divãs (Mt.14,15). Seria estranho que a família que O acolheu não pusesse diante do Senhor a preciosa taça familiar para que pronunciasse as bênçãos rituais, a última das quais se tornou na primeira consagração eucarística do vinho no Sangue do Redentor? Temos visto cenas demasiadamente “pobres” da Última Ceia, com os discípulos sentados no chão e Jesus tomando em Suas mãos uma humilde taça de barro... mas não foi assim.


Assim, pois, os apóstolos e os primeiros cristãos puderam identificar a taça da primeira Eucaristia e conservá-lo apesar de sua fragilidade. Como pôde ter sido conservado intacto durante os primeiros e malogrados mil anos senão porque o protegia a memória de um mistério sacratíssimo?


As Lendas do Graal


O tema da busca do Graal, objeto maravilhoso e fonte de vida, é fundamental na literatura franco-germânica, e sua origem está, sobretudo, nas obras de Chretien de Troyes, que deixou inacabada, em 1190, sua obra Perceval ou O Conto do Graal. Aqui não se explica qual é a natureza desta jóia, e foi Wolfram Von Eschenbach quem lhe deu forma de cálice em seu poema “Perceval, o Galês”. Acredita-se que concebeu seu Parsifal em princípios do século XIII, em Wartburg, mítico castelo, berço de poetas e trovadores, e que o finalizou em 1215. Ali, neste castelo, onde estes mestres cantores cantavam o amor e cujas três regras principais, Deus, seu senhor e a mulher amada, constituíam a fonte de suas inspirações, compôs Wolfram sua obra magna. Pois ele foi o príncipe dos trovadores, a máxima figura junto a Walter Von der Volgelweide e Heinrich Tannhäuser.


Recentes investigadores, como Michael Hesemann (“Die Entdeckung dês Heiligen Grals. Das Ende einer Suche”, Ed. Pattloch, 2003), situam a origem das lendas na Espanha e sobre a base do cálice de ágata de San Juan de La Peña e não podemos esquecer que foram a fonte de inspiração para as grandes obras poético-musicais de Richard Wagner: "Tannhäuser", "Parsifal" e "Lohengrin".


Um tema da atualidade


Se a literatura graálica medieval encontrou na busca do sagrado cálice, um símbolo de purificação e de renúncia para chegar à perfeição pessoal e à salvação, vemos nestes últimos anos, a aparição de romances fingidamente históricos e a toda uma literatura esotérica que faz do Graal um objeto obscuro ou uma tradição ocultada através dos séculos que conservaria a autêntica história do Cristianismo ou a verdadeira história de Jesus de Nazaré. Parece que o que não conseguiu a crítica liberal e o materialismo antirreligioso, pretende-se agora lograr com esta pseudo-divulgação para destruir a limpa fé da Igreja em Jesus Cristo, o Senhor. Deste modo, a suspeita e a falsidade buscam ofuscar o que foi e deveria seguir sendo um ícone da cultura cristã.


Por isso, o cálice, com sua autenticidade arqueológica e sua tradição com elementos maravilhosos, nos remete à época de Jesus e nos recorda a instituição da Eucaristia como momentos históricos que transcendem o tempo e chegam até nós como mistério de salvação. Assim, o vivemos quando a sagrada relíquia é trasladada de sua preciosa capela, a antiga sala capitular (século XIV), até o altar-mor na celebração da Santa Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa e na festa solene na última quinta-feira do mês de outubro.


Esta é a mensagem que se deseja proclamar desde a Catedral de Valência, com o apoio de beneméritas associações como a Real Irmandade e a Confraria do Santo Cálice que, junto com o Cabido Metropolitano, mantêm o culto e a difusão da devoção do Santo Cálice, que se expressa em peregrinações de paróquias e entidades religiosas e cívicas, todas as semanas, na celebração da “quinta-feira do Santo Cálice”.


Texto original no site da Catedral de Valência: http://www.catedraldevalencia.es/el-santo-caliz_historia.php



Tradução: Rodrigo Castellani


Nenhum comentário:

Postar um comentário