8 de dez. de 2014

"Perdoar é divino. Só Deus perdoa"

Quantas vezes já ouvimos esta frase dita pelas pessoas, principalmente quando necessitam perdoar ou quando alguém que as tenha ofendido lhes pede perdão. Mas não foi isso que Jesus ensinou: na oração do Pai-Nosso, pedimos para que Deus perdoe nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam. Após ensinar o Pai-Nosso, Jesus enfatiza que o perdão de Deus é condicionado ao perdão que damos ao nosso próximo: "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará" (Mt. 6, 14-15). Não podemos fazer uma oração mentirosa diante de Deus.

Com a mesma medida que medimos nossos irmãos seremos medidos por Deus. Jesus exige de nós um verdadeiro ato de heroísmo quando nos manda perdoar nossos inimigos, pessoas que muitas vezes nos ofenderam ou nos prejudicaram enormemente. Por mais grave que tenha sido o pecado cometido contra nós - e há gravíssimos - não temos o luxo de não perdoar, desde que acreditemos em Deus e constantemente peçamos o Seu perdão. Jesus nos conta a parábola daquele servo que devia - tragamos para os dias atuais - um trilhão de dólares para seu senhor. Sem poder pagar, o servo lançou-se aos pés do senhor e implorou o perdão. Cheio de compaixão, o senhor perdoou-lhe toda a dívida. Saindo da presença de seu senhor, o servo encontrou um colega que lhe devia 100 reais. Pegou este pela garganta e ameaçou mandar prendê-lo se não pagasse. Quando o senhor ficou sabendo da atitude do servo, mandou chamá-lo e revogou o perdão da dívida, lançando-o na prisão. E Jesus termina a parábola novamente com a ressalva: "Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração" (Mt. 18, 35).

A lição da parábola é clara. O senhor é Deus. Os devedores somos todos nós. Cada pecado que cometemos é uma ofensa irreparável a Deus. Nada podemos fazer para quitá-lo, dependemos exclusivamente da misericórdia do Senhor. Todavia, os pecados dos nossos irmãos - tão imperfeitos e pecadores quanto nós - temos sérias dificuldades em perdoar, neste mundo onde tudo passa. Diz o Eclesiástico (28, 4-5): "Não tem misericórdia para com o seu semelhante, e roga o perdão dos seus pecados! Ele, que é apenas carne, guarda rancor, e pede a Deus que lhe seja propício! Quem, então, lhe conseguirá o perdão de seus pecados?" E o perdão que devemos ao próximo é infinito. Quando Pedro pergunta a Jesus quantas vezes deve perdoar, se até sete vezes (imaginando que sete vezes já seria uma boa quantia de vezes), Jesus lhe responde que deve perdoar 70 vezes 7, por dia.

Jesus nos diz que quando estivermos para levar nossa oferta ao altar - quando estamos na Santa Missa, onde ofertamos nossas vidas para se unir ao sacrifício de Jesus - devemos, antes, perdoar de todo o coração se temos algo contra alguém. Senão, a oferta de nada vale.

Há quem objete dizendo que Deus perdoa porque é perfeito e impassível. Esta objeção - e acusação, por que não - não faz sentido depois que Deus se fez homem em Nosso Senhor Jesus Cristo. Como disse acima, nossos pecados são irreparáveis. Somente Jesus, o homem perfeito podia repará-lo. Somente unindo em Sua Pessoa Deus e o homem é que o pecado podia ser tirado do mundo. Jesus conquistou o perdão de nossos pecados morrendo na cruz. Sendo santíssimo, tomou sobre si nossos pecados para aplacar a justiça de Deus. Cristo morreu por nós, pecadores. Sofreu todas as dores e humilhações em sua gloriosa Paixão e morte. O próprio Deus sofreu toda a consequência do pecado na própria carne e, do alto da cruz, perdoou a todos que faziam-no sofrer. Não mais podemos acusar a Deus de estar no alto do céu, em seu trono inatingível, exigindo de nós, míseras criaturas cheias de defeitos, que perdoemos nossos ofensores. Deus nos dá, agora, Seu Espírito para que tenhamos força para perdoar qualquer pecado cometido contra nós. Os mártires dão provas da graça de Deus agindo, quando morrem perdoando seus algozes.

Perdoar não é fácil, nós sabemos. Perdoar não é esquecer a ofensa, nem atenuá-la, nem ser conivente a injustiça. É limpar a alma do ressentimento e do ódio, despojarmo-nos de todo orgulho. É sermos "perfeitos como o Pai celeste é perfeito". É imitarmos o nosso Mestre e Senhor, Jesus Cristo. Muitas vezes sofremos danos irreparáveis, ofensas gravíssimas, que nos machucam profundamente. Mas, para nós que cremos em Deus e em Jesus Cristo, sabemos que somos fracos e que por nós mesmos nada podemos e que tudo é graça. Se temos algo contra o próximo, devemos pedir ao Pai de misericórdia para que nos conceda a graça de perdoar e que sejamos humildes e corajosos para pedirmos e darmos o perdão a nossos irmãos.




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