10 de jan. de 2015

Ataque ao Charlie Hebdo: a Europa - e todo o Ocidente - colhe o que plantou

A Europa colhe o que plantou. Ontem, vi que pelo menos dois mil jovens europeus já se juntaram ao Estado Islâmico. A Europa virou as costas para suas raízes cristãs. Se envergonha de sua História e de seus valores (não apenas dos valores essencialmente cristãos). Entrou em processo autodestrutivo, graças a seu complexo de culpa - já afirmava Levi-Strauss. O futuro da Europa é obscuro. Estamos diante de uma daquelas fases de transição civilizacional, como o fim do Império Romano. A Europa tem uma doença incurável e está em estado terminal. Não tem mais nada a oferecer. Antes de sofrer com a crise econômica, a Europa sofre uma crise de identidade. A eleição de um Papa não europeu após 1200 anos é sintomático. Nunca a expressão Velho Continente fez tanto sentido.


A Europa colhe o que plantou. Não só a Europa, mas todo o Ocidente. A cultura pós-moderna, fluída, relativista, jogou o ser humano na incerteza e no niilismo. Pensou que o Estado de bem-estar social, o materialismo, poderia suprir todas as necessidades do homem, inclusive as existenciais. O ser humano precisa de um ideal, precisa de um sentido para a vida. Sentido este que a cultura ocidental vem destruindo sistematicamente. "Nem só de pão vive o homem..." Não é surpreendente ver milhares de jovens europeus se alistando nas fileiras do Estado Islâmico. Eles não procuram o terrorismo. Procuram um sentido para a vida. E como a civilização ocidental foi á pique, ficamos na superfície de um mar tenebroso e violento, que joga-nos de um lado a outro e qualquer coisa que passe boiando ao nosso lado serve de tábua de salvação, ainda que seja a violência injustificada do terrorismo. Mas não só. Há outros radicalismos dos grupelhos politicamente corretos que atrai muita gente e demostra tanta irracionalidade quanto ao do EI.


Quando vivemos em plena ditadura do relativismo, onde é abolida a verdade absoluta e a consciência individual passa a ser a instância suprema do bem e do mal, há aqueles que encontram legitimidade em debochar da religião e em defender sua fé matando quem a ofende. Parece um paradoxo, mas ambos estão do mesmo lado, porque a ditadura do relativismo, como não podia ser diferente, não é totalitária, nem abrange o corpo todo da sociedade. É composta por indivíduos que se agrupam em torno de uma causa comum. Não defende a tolerância geral, mas a tolerância para si, para seu grupo e para aquilo que defende. Se puder, impõe seus ideais aos restantes. Os islâmicos, radicais ou não, marcham de braços dados na Europa com feministas e grupos gays. Servem-se do estatuto de minorias. Após o ataque ao Charlie Hebdo o que mais se ouve é um apelo contra a islamofobia, que, como a maioria das "fobias", é um mito criado para vitimizar a minoria muçulmana na Europa. Uma sociedade relativista, onde as ideologias, algumas estapafúrdias, pululam livremente, é um convite ao totalitarismo. Basta alguma delas se sobressair, rompendo o equilíbrio de tolerância. Não é à toa - e por mais estranho que possa parecer - que o marxismo e o nazifascismo se consideravam herdeiros da Revolução Francesa.

Para concluir, é ótimo que lideranças influentes do Islã condenem ataques terroristas cometidos por extremistas muçulmanos. Agora, dizer que o Islã, histórica e tradicionalmente, é uma religião de paz é brincadeira. É querer distorcer a História. O islã se expandiu à base da espada. Apenas cem anos após a morte de Maomé, a religião islâmica se estendia do Irã à Espanha. E não foi por força de seus missionários, mas de seus guerreiros, "daqueles que migram", como diz o Alcorão. Tentou avançar pela Europa e sua marcha foi detida já no centro da França, graças a Providência divina, por Carlos Martel. Mais tarde, outros muçulmanos, agora turcos, avançaram até o centro da Europa entre os séculos XV e XVII. A cultura árabe-muçulmana deixou muitas contribuições positivas para a humanidade e, particularmente para a civilização ocidental. Mas reescrever a História não dá.





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